segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Refletindo sobre ser professor



Refletindo sobre ser professor
Lucélia Ribeiro

Foto: Profa. Lucélia e alunos do 5ª  A
  A discussão sobre o ofício de professor como uma profissão e a profissionalidade docente, as quais demandam um corpo de saberes, habilidades, competências, normas e valores, têm sido recorrentes na literatura e na pesquisa educacional nos últimos anos, como resultado de uma produção internacional que aqui tem chegado.
   Evidenciam-se, atualmente, preocupações com os cursos de formação de professores, em nível superior, efetivamente no que diz respeito à formação do professor enquanto um profissional, mesmo acatando-se a ideia de que a profissionalidade não é construída apenas no contexto acadêmico/universitário da formação inicial. Sobre isso, Pérez Goméz compreende que “a função do docente e os processos de sua formação e desenvolvimento profissional devem ser considerados em relação aos diferentes modos de conceber a prática educativa” (ibid. 2000, p. 353).
   Do ponto de vista teórico/ epistemológico a análise da profissão professor implica na compreensão de alguns pressupostos:
- No avanço, em termos de pesquisas, no conhecimento sobre como o professor “aprende a ensinar”, como ele articula os saberes, suas técnicas, seus valores no contexto da sala de aula e quais são esses saberes e como se manifestam.
- Na compreensão de que o professor deve assumir sua profissão como uma atividade que além da resolução de problemas, através da aplicação de técnicas e de modelos aprendidos, exige a abertura para o novo, o singular, ou o impensado. O professor deve exercer sua análise clínica, seu talento artístico, a reflexão na ação. Supõe a compreensão de uma epistemologia da prática do ponto de vista da reflexão.
- No entendimento de que o desenvolvimento profissional do professor implica em tomar a formação inicial e posterior num contínuo desenvolvimento profissional, que implica em responsabilidade não só pessoal como também das instituições formadoras e das escolas em que trabalham.
- Na necessidade de que os cursos de formação de professores abandonem a lógica acadêmica, disciplinar de formação e instaurem uma lógica de formação profissional, tendo a prática como sua referência principal. 


   Assim, profissional professor é aquele que detém o conhecimento profissional em questões de alta importância humana. Em troca do acesso a seu conhecimento especial, o profissional recebe um mandato para exercer controle social nas questões de sua especialização, uma licença para determinar quem entrará em sua profissão e um grau relativamente alto de autonomia na regulamentação de sua prática. Assim, em uma íntima associação com a própria ideia de profissão encontramos a ideia de uma comunidade de profissionais cujo conhecimento especial coloca-os à parte de outros indivíduos, em relação aos quais têm direitos e privilégios especiais. (SCHÖN, 2000, p. 36).
    No Brasil, o adjetivo profissional dado à palavra professor já era utilizado nas primeiras décadas do século passado. Os intelectuais do campo educacional e os administradores da educação se debatiam em empreender reformas educacionais que pudessem constituir o professor como um profissional e em refletir os meios para transformar o ensino em uma profissão como tantas outras reconhecidas.
     Estas preocupações foram resultado de três processos importantes que marcaram o campo educacional no período, conforme António Nóvoa. São eles: o processo de estatização do ensino, da institucionalização da formação de professores e da cientifização da pedagogia.
  Com relação à estatização do ensino, podemos afirmar que o Estado brasileiro foi, gradativamente, assumindo sua função de educador, sustentado pelos ideais republicanos, embora, já na Primeira República, fossem manifestadas preocupações com o elevado número de analfabetos e não houve, no entanto, uma forte demanda por educação, desobrigando o Estado da construção de um sistema nacional de ensino.
  Somente a partir dos anos vinte do século XX, com a emergência de uma tardia revolução industrial e do reordenamento político e cultural da sociedade brasileira, é que surgiriam significativas demandas por uma educação pública, gratuita e universal, que exigiriam do Estado a responsabilidade com a educação nacional, fato que já havia ocorrido em países da Europa no final do século XIX.
   A escola e o ensino passaram, então, a ser compreendidos pelos parâmetros dos ideais democráticos da Educação Nova que se disseminavam pelo país. Porém, importa ressaltar que nesse novo contexto brasileiro, a escola e o ensino foram considerados elementos potencializadores do desenvolvimento do país.

  Com o ensino primário sendo colocado ao alcance das camadas populares, intensificaram-se as preocupações acerca da melhor forma de ensino, da melhor escola e, conseqüentemente, da necessária formação para os professores, agentes responsáveis por tal mudança. Era preciso, portanto, dar atenção especial às instituições formadoras de professores.

Anísio Teixeira, um dos maiores expoentes do movimento da educação renovada no Brasil, em seu texto “Ciência ou arte de educar”, indagava sobre o caráter científico ou artístico do ofício de ensinar. Para Anísio, o ensino deveria assumir um caráter de arte científica, à semelhança da medicina e da engenharia, constituindo-se, então, em uma profissão. Os conhecimentos científicos possibilitariam aos professores que os possuíssem, a capacidade e a competência para rever e reconstruir suas práticas educativas. Entendia que tal como o médico, o professor também recria, exerce a arte clínica ao adequar seus conhecimentos às situações particulares em que vive.

O professor, ao enfrentar-se com as situações do cotidiano de sala de aula, “mobilizaria” seus conhecimentos (profissionais) para resolver tais situações, consideradas inesperadas e singulares.
Para Schön (2000, p. 17), esta visão poderia ser considerada tributária da concepção de racionalidade técnica, ou seja, “a aplicação de técnicas derivadas de sua bagagem de conhecimento profissional”. A racionalidade técnica diz que os profissionais são aqueles que solucionam problemas instrumentais, selecionando os meios técnicos mais apropriados para propósitos específicos. Profissionais rigorosos solucionam problemas instrumentais claros, através da aplicação da teoria e da técnica derivadas de conhecimento sistemático, de preferência científico.

A concepção de prática profissional tributária da concepção de racionalidade técnica foi atribuída à visão de Anísio, pois durante muito tempo foi entendido como “precursor da visão tecno-burocrática” muito em voga no Brasil nos anos 70. Embora a importância atribuída, por Anísio, aos conhecimentos científicos, às Ciências da Educação, não se pode deduzir que o ensino restringe-se a uma tarefa de aplicação de regras e técnicas oriundas da ciência para resolver os problemas da prática docente. Da mesma forma que para Schön e para Dewey, Anísio entendia que “a atividade docente, como a medicina - e até mais do que ela –, teria muito de arte” (MENDONÇA, 2002, p. 93).

Ensinar não é somente uma ciência aplicada ou uma arte industrial e técnica como a engenharia. Nem mesmo é como a medicina, onde a parte exata dos conhecimentos, embora menor, já permite certas aplicações perfeitamente seguras e impessoais. (...) Se, pois, ensinar participa assim tão profundamente desse caráter artístico, não podemos crer que uma pessoa, somente por muito aprender psicologia e sociologia educacionais, venha amanhã a ser um ótimo professor primário” (Anísio Teixeira, em discurso proferido em 1932, na abertura dos cursos do Instituto de Educação).

Há que se compreender que, tanto para Anísio como para Schön, o ensino é uma atividade que pressupõe o exercício de um talento artístico, um certo tipo de competência que os profissionais demonstram em certas situações da prática que são únicas, incertas e conflituosas.

Libaneo em: Organização e Gestão da Escola: teoria e prática, Alternativa, 2004, diz que:
" (...) a profissão de professor vem
sendo desvalorizada tanto social quanto economicamente, interferindo na imagem da profissão. em boa parte isso se deve a condições precárias de profissionalização-salário, recursos materiais e didáticos, formação profissional, carreira -provimento, é, em boa parte, responsabilidade dos governos.
E a outra a quem pertence? Necessitamos de reflexões. Eis a minha:

Ser professora surgiu de um desejo de minha mãe, pois ela tinha o pensamento que o magistério era uma profissão que tinha caminho aberto para empregos. De certa forma ela estava certa. Segui o conselho dela.
Aos poucos fui me aperfeiçoando através das diversas salas que se apresentavam. Hoje, afirmo Ser Professora não é só uma profissão! É desenvolver um dom e ajudar a aqueles que necessitam de nossa aprendizagem. Ser professor é estabelecer um vinculo forte entre o eu e o outro em nossa sala de aula. E tenho procurado ampliar esses vínculos para colher bons frutos a cada final de ano letivo.
Ser professor/Educador é buscar meios diversos para ampliação do seu conhecimento e do outro. É ser instigante, leitor, pesquisador... Ser professor é despertar sempre com uma nova visão para desenvolvimento de novos caminhos que vão florescendo a cada dia em nossa sala de aula.
“Ser professor é nunca deixar de Amar aquilo que se faz”. Então professor... Apesar dos problemas... “Nada de desânimo, pois ainda temos muito para aprender e lutar por uma Educação que um dia possamos realmente falar “É de qualidade” para quem ensina e para quem aprende...”.
Obs. Trecho extraído do meu Memorial Acadêmico para conclusão do curso de Letras em maio 2009.
REFERÊNCIAS
BOAVENTURA, E. M. Memorial. 1995. Disponível em: . Acesso em: 12 fev. 2003.
CURRY, Augusto Jorge. Pais Brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro. Editora Sextante, 2003;
COSTA, Antonio Carlos Gomes da. O professor como educador: um resgate necessário e urgente. Salvador: Fundação Luís Eduardo Magalhães, 2001;
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indagação:cartas pedagógicas e outros escritos.São Paulo, Eitora Unesp, 1977

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2004;
PERRENOUD, Phillipe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000;
SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre, ARTMED, 2000.

REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO. Jan/fev/mar/abr, 2000, n. 13 ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
VIGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Acesso a sites da internet:

http://www.revistanovaeraletras.blogspot.com/ - Memórias do Curso de Graduação. Organizado por Lucélia Ribeiro, aluna da Faculdade de Tecnologia e Ciências – Ead.
www.ufrr.br/component/option.com - Roteiro para elaboração de Memorial. Compilado por Gildenir Carolino Santos, Campinas, São Paulo, 2005.

Nenhum comentário:

LUCÉLIA RIBEIRO

Minha foto
Juazeiro, Bahia, Brazil