segunda-feira, 19 de julho de 2010


O PEDAGOGO E A CONSTRUÇÃO DE SUA IDENTIDADE



Karla Patrícia V.de Britto[1]


A diversidade sociocultural presente no espaço escolar e a especificidade educacional na sociedade contemporânea apontam a necessidade de construção e reconstrução do papel do Pedagogo. A relevância do desenvolvimento do artigo situa-se na necessidade de analisar o contexto das dimensões: formativa, organizacional e pedagógica. Para isso, tem-se como objetivo analisar a formação e atuação do professor pedagogo investigando o pensamento crítico-reflexivo, para constatar a identidade profissional do professor pedagogo.

Este artigo versa sobre a pesquisa realizada que teve como tema o pedagogo e os eixos que norteiam a construção de sua identidade profissional no espaço escolar, analisando o contexto das dimensões: formativa (incorporação dos saberes adquiridos), organizacional (construção de novos modelos de gestão curricular e administrativas) e pedagógica (práticas educativas) no contexto educacional.
Os estudos de Perrenoud (2002) e de Mizukami (1998) apontam que há uma grande preocupação com a dicotomia entre teoria e prática na formação do educador, havendo dificuldades por parte do professor em estabelecer uma ponte entre os conhecimentos teóricos (saberes de referência) e a prática pedagógica (saberes práticos).
Na abordagem teórica, o que se pretende é analisar as idéias dos autores citados e de outros referenciados sobre o contexto da formação do profissional da educação, de tal forma que possa evidenciar como a formação de professores se dá na prática. Essa análise propicia uma visão crítica das práticas pedagógicas e o que se busca ver é a relação teoria x prática e a postura reflexiva do professor.
Para tanto, faz-se necessário refletir sobre alternativas pelas quais a educação pode contribuir face às exigências da atualidade. Não podemos pensar de maneira linear frente à forma complexa de mundo, sociedade e homem. Nesse sentido, vemos na educação um dos meios que temos para vencer as diferenças nesta sociedade globalizada.
A educação exige professores que pensem com autonomia; professores que tenham, segundo Perrenoud (2000), “competências e habilidades” para encontrar as soluções necessárias ao processo ensino-aprendizagem, bem como professores que acreditam na necessidade de estar sempre se atualizando em uma sociedade em que as mudanças ocorrem constantemente.
Essas mudanças exigem que a formação do professor contemple uma permanente reflexão sobre uma prática que precisa ser renovada para acompanhar o ritmo das transformações; pois, segundo Zeichner (1998), o “professor como prático reflexivo reconhece a riqueza da experiência que reside na prática dos bons professores”.
De acordo com alguns autores, a formação continuada apresenta-se como sendo uma condição necessária ao desenvolvimento de habilidades, atitudes de valores, de forma a atualizar a aprendizagem anterior. Dentro da perspectiva de formações continuadas, o professor terá a possibilidade de rever sua formação e atuação, contribuindo para um processo contínuo de construção da sua identidade profissional.


A Identidade do Pedagogo

Quando procuramos pelo conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa graças às quais é possível individualizá-la, segundo Houaiss (2001, p.1565)[2], estamos referindo-nos à identidade. Em se tratando da busca da identidade do Pedagogo, questiona-se se ele é um professor, um educador ou um cientista. Que características o distinguem? E em que circunstâncias ele se apresentam?
Nóvoa (2006), relatando uma experiência, diz que, ao apresentar sua identidade profissional, oscila entre professor, cientista ou pedagogo, mas a resposta mais plausível é dizer-se: professor. Porém, se encontra alguém mais curioso que pergunta: “professor de quê?”, então, tudo recomeça. Na opinião de Libâneo, há uma diversidade de práticas educativas intencionais na sociedade a qual se configura como uma ação pedagógica nas esferas escolar e extra-escolar, assim, ele considera que: O pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa de saberes e modos de ação, tendo em vistos objetivos de formação humana definidos em sua contextualização histórica. (2002 p. 68)[3]

Sabe-se que as práticas educativas, em suas várias manifestações e modalidades, não se restringem à escola, mas é evidente a tendência de pedagogização da sociedade, pois, segundo Libâneo (2006), não é casual a menção cada vez mais freqüente à sociedade do conhecimento. E a ausência do pedagogo junto às instituições educativas deixa uma lacuna, pois, sem ele, quem irá coordenar os trabalhos pedagógicos?


Sobre a identidade do pedagogo, Franco esclarece que:


O pedagogo será aquele profissional capaz de mediar teoria pedagógica e práxis educativa e deverá estar comprometido com a construção de um projeto político voltado à emancipação dos sujeitos da práxis na busca de novas e significativas relações sociais desejadas pelos sujeitos. (2003, p.110)[4]

Porém, no dia-a-dia da escola, presenciamos a figura de um pedagogo sobrecarregado à mercê das necessidades imediatas distanciando-o das propostas de contribuir com a transformação, conduzindo ao esvaziamento e equívocos em seu fazer e em sua formação.

Considerações Finais


Entendemos que é necessário o professor analisar o contexto da realidade educativa, por meio de uma reflexão constante que desenvolva o seu saber fazer, articulando o que, como, para que e para quem, de forma a integrar os alunos nas situações de aprendizagem.
Dessa forma, defendemos os processos de formações continuadas, seja, presencial ou em ensinos a distancia, como uma possibilidade de integração entre a teoria e prática, a reflexão e a ação no campo de atuação pedagógica, de forma autônoma e criativa, correlacionadas com os processo de participação nas formações que só tem a contribuir pedagogicamente com o profissional professor, fazendo-o um articulador de novas vivências, experiências e a sua própria visão na ampliação do conhecimento.
É certo, pois afirmar, que o pedagogo-professor não deve ater-se somente aos limites teóricos, mas buscar seu aprendizado na criação e recriação de sua prática apropriando-se também, dos recursos, métodos, teorias e técnicas do professor formador para refletir e modificar seus conhecimentos científicos e experiências incorporando esses saberes na criação de seus habitus: saberes de referências, saberes pedagógico e competência.
Finalizando, entendemos e defendemos que a formação profissional deve ser entendida como um processo de desenvolvimento contínuo, onde a construção da identidade profissional do pedagogo ainda está em construção, perpassando pelas dimensões: formativa, organizacional e a postura reflexiva na sua própria prática pedagógica, que esperamos possam atender aos anseios do que compõem a Escola.


[1] Artigo apresentado a disciplina de Estágio I: O Pedagogo e os Eixos que Norteiam a Construção de sua Identidade. Karla Patrícia V. de Britto, 5º Período de Pedagogia-UNEB/DCH III. Junho, 2009.
[2] HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p.1565
[3] LIBÂNEO, José Carlos. Educação: pedagogia e didática – O campo investigativo da pedagogia e da didática no Brasil: esboço histórico e buscas de identidade epistemológica e profissional. In: PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Didática e Formação de Professores: percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal. São Paulo: Cortez, p. 77- 129, 2006a.
[4] FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia como ciência da educação. Campinas: Papirus, 2003.

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LUCÉLIA RIBEIRO

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